Negociações salariais rendem o menor reajuste em 11 anos

Valor– 06/04/2016 – (Leia na integra: Clique Aqui)

Algoritmo Emprego CAGEDSÃO PAULO -­ As negociações salariais entre patrões e trabalhadores resultaram em um reajuste médio de 0,23%, em termos reais, em 2015. É o menor desde 2004, quando o reajuste médio havia ficado em 0,61%. Em 2014, o aumento real foi 1,34%.

Os dados foram divulgados nesta quarta­-feira pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O balanço de 708 negociações salariais em todo o país leva em conta a indústria, o comércio e os serviços. Agropecuária e setor público não entram nos cálculos da entidade.

O principal fator para o resultado pouco favorável aos trabalhadores foi o aumento da inflação e do aumento do desemprego, além da recessão econômica.

“Em 2015, além de uma conjuntura econômica extremamente adversa, com indicadores gerais muito negativos, tivemos um salto da inflação”, disse José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de Relações Sindicais em coletiva de imprensa realizada em São Paulo.

O Dieese usa como base para a inflação o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que no ano passado subiu 11,28%. No período, 52% dos reajustes ficaram acima da inflação, 29,9% foram iguais ao INPC e 18,1% ficaram abaixo. A comparação com o ano anterior mostra a piora da situação. Em 2014, 90,2% ficaram acima da inflação, 7,3% foram iguais e apenas 2,4% ficaram abaixo. Do total de reajustes de 2015, 37,6% ficaram entre 0,01% e 1% acima do INPC.

As maior parte das categorias que têm data­-base para reajuste no primeiro semestre conquistaram ganhos maiores do que as outras, segundo Silvestre. “A situação piorou de metade do ano para a frente. Até junho, a inflação foi de 8%, 8,5% [no acumulado de 12 meses]. A partir de junho, a inflação foi para quase 11%”, disse.

Menor no Sudeste

A piora da atividade industrial fez os reajustes salariais de 2015 serem menores no Sudeste do que nas outras regiões do país, segundo o Dieese.

A região que engloba São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo tem a maior concentração de indústrias no Brasil. O setor já vinha sofrendo “há quatro, cinco anos” e viu a situação se agravar ainda mais em 2015, o que contribuiu para os menores reajustes nesses Estados, diz Silvestre.

No Sudeste, 42,2% dos reajustes (em todos os setores) ficaram acima do INPC, 33,6% iguais e 24,2% menores. A região que apresentou melhor desempenho foi o Sul, com 59,8% dos reajustes acima do INPC, 26,5% iguais e 3,7% menores. Em seguida, vêm Centro-­Oeste (54% acima, 20% iguais e 26% menores), Norte (57,4% acima, 21,3% iguais e 21,3% menores).

No ano passado, 45% dos reajustes da indústria no país ficaram acima INPC, que fechou 2015 em 11,28%. Outras 36% das negociações do setor deram reajustes iguais ao INPC e 19% ficaram abaixo.

“A indústria já vinha enfrentando dificuldades, e isso vem se agravando. Quando ela vai mal, isso tem reflexos nas negociações. Toda vez que vai bem, também acaba influenciando”, diz Silvestre.

Como comparação, o comércio teve 53,4% dos reajustes maiores do que a inflação, 31,9% iguais e 14,7% menores. Já os serviços tiveram 61,5% de reajustes maiores, 20,1% iguais e 18,4% menores.

Entre os setores da indústria, Silvestre destaca negativamente o desempenho do metalúrgico, em que apenas 42,9% dos reajustes ficaram acima da inflação, menos do que a média de 45%. “É algo que chama atenção, não tanto pela diferença em relação à média, mas pela importância do setor”, diz.

Menos de 45% das empresas do segmentos de química e farmacêutica, fiação e tecelagem, papel, papelão e cortiça e urbana também tiveram ajustes acima da inflação. Já vestuário, gráfica, construção e mobiliário e alimentação tiveram mais de 45% de suas empresas com reajustes maiores que a inflação.